Gerenciamento de Áreas Contaminadas e Hidrogeologia

Procedimentos e técnicas que visam avaliar passivos ambientais e criar soluções eficazes para amenizar seus impactos.

O gerenciamento de áreas contaminadas (GAC) abrange um conjunto de ações e medidas destinadas à identificação, avaliação, controle e remediação de locais afetados por substâncias poluentes, como produtos químicos tóxicos ou resíduos industriais, para minimizar impactos negativos na saúde humana e no meio ambiente. A reabilitação de áreas contaminadas contribui para a melhoria da qualidade de vida nas comunidades afetadas, reduzindo os riscos à saúde e restaurando o ambiente para usos seguros. A contaminação é responsabilidade das empresas e proprietários, que podem receber multas significativas por não cumprir regulamentações ambientais. Além disso, o gerenciamento apropriado de eventuais contaminações possibilita a recuperação e conservação do valor das propriedades. 

No estado de São Paulo, o órgão ambiental que tem como responsabilidade coordenar e fiscalizar a execução do GAC é a CETESB, conforme a Lei nº13.577, de 8 de julho de 2009, e o Decreto Regulamentador nº59.263, de 5 de junho de 2013. Dessa forma, foi publicada a Decisão de Diretoria nº038/2017/C (CETESB, 2017) e criado o Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (CETESB, 2021), que dispõem sobre os métodos e procedimentos a serem adotados em todas as fases do gerenciamento, desde a identificação até a reabilitação das áreas, de forma a servir como um guia abrangente para os profissionais envolvidos nesses processos e garantir a conformidade com as normas ambientais e a segurança pública. Além disso, as determinações foram responsáveis por também incorporar o próprio GAC na legislação ambiental vigente, com o apoio da Resolução CONAMA nº420, de 28 de dezembro de 2009. 

A abordagem para o gerenciamento de áreas contaminadas segue uma estratégia composta por etapas sequenciais, onde os dados reunidos em cada fase servem como alicerces para a condução das etapas subsequentes, cujo propósito é identificar e caracterizar as áreas contaminadas dentro da região de interesse, além da implementação de medidas de intervenção em cada uma delas, quando necessário. As etapas sequenciais que viabilizam a identificação e a intervenção em áreas contaminadas são: Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação, Avaliação Preliminar, Investigação Confirmatória, Investigação Detalhada, Avaliação de Risco e Plano de Intervenção. 

Durante a execução das etapas do GAC, as áreas podem receber diversas classificações, como Área com Potencial de Contaminação (AP), Área Suspeita de Contaminação (AS), Área Contaminada (AC) – subdividida em Área Contaminada sob Investigação (ACI), Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi), Área Contaminada em Processo de Remediação (ACRe), Área Contaminada em Processo de Reutilização (ACRu), Área em Processo de Monitoramento para Encerramento (AME), Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) – e Área Não Contaminada (AN). 

A etapa de Avaliação Preliminar de passivos ambientais é um exame inicial e abrangente das responsabilidades ambientais associadas a uma área específica, propriedade ou atividade. Este processo visa identificar e avaliar possíveis impactos ambientais passados e atuais, bem como determinar a extensão das responsabilidades legais relacionadas a eles. Esse procedimento envolve etapas como a coleta de dados históricos, revisão de documentos, inspeção de campo para identificação de possíveis contaminações, avaliação dos riscos, determinação de responsabilidades legais e a apresentação dos resultados em um relatório técnico. 

Essa etapa é essencial para garantir que as partes interessadas compreendam a extensão do problema e possam iniciar uma gestão apropriada. Com seus resultados, é possível desenvolver planos estratégicos eficientes para a gestão das áreas, estabelecendo objetivos, cronogramas e orçamentos adequados. A identificação de contaminantes e a avaliação do passivo ambiental ajudam a evitar custos elevados a longo prazo, permitindo a implementação de medidas corretivas e a tomada de decisões seguras baseadas no uso da área em estudo. 

Além disso, a Avaliação Preliminar desempenha um papel fundamental na garantia de conformidade com requisitos legais e regulatórios, prevenindo penalidades e assegurando responsabilidade legal adequada. Seus resultados fornecem informações transparentes sobre a situação da área em estudo, estabelecendo uma comunicação aberta entre as partes interessadas e autoridades regulatórias. 

Ressalta-se que uma gestão ambiental iniciada com uma Avaliação Preliminar sólida promove práticas eficazes no atendimento às necessidades econômicas, ambientais e regulatórias, fornecendo dados essenciais que orientaram futuras ações, reduzem os riscos à saúde humana e protegem os compartimentos ambientais. 

A Investigação Confirmatória de passivo ambiental é a fase seguinte do GAC conduzida quando na etapa anterior são verificados indícios de contaminação na área em estudo, sejam esses indícios provenientes das atividades atuais ou pretéritas. Buscando validar a presença de contaminações são realizadas a coleta de amostras de solo, água subterrânea ou vapores, por meio de sondagens e instalação de poços de monitoramento. As amostragens são seguidas por análises laboratoriais que identificam se há presença de contaminantes, quais são estes e em que concentrações ocorrem. 

Com base nos dados obtidos, é possível ajustar e otimizar o Modelo Conceitual da área de estudo e elaborar um relatório técnico com produtos cartográficos, resultados laboratoriais e as estratégias de remediação para garantir uma abordagem eficaz e eficiente. Assim, essa fase assegura que as decisões subsequentes sejam baseadas em dados sólidos e confiáveis e contribui para a proteção da saúde pública, do meio ambiente e para a conformidade com os requisitos legais e decisões regulatórias. 

Diferentemente da Investigação Confirmatória, a Investigação Detalhada envolve uma exploração mais aprofundada e minuciosa das características do solo, geologia e hidrogeologia locais, proporcionando uma melhor compreensão da dinâmica comportamental da contaminação, da sua origem e de suas características. A investigação detalhada permite uma compreensão mais profunda dos riscos ambientais e para a saúde humana associados à área contaminada. 

Ao coletar dados detalhados, como a identificação de substâncias poluentes e a avaliação de sua concentração no solo ou na água subterrânea, através de poços de monitoramento e amostragem, torna-se possível tomar decisões informadas sobre as medidas de intervenção necessárias. Essa precisão na análise é essencial para desenvolver estratégias eficazes de remediação que visem à restauração ambiental e à proteção da saúde pública. A Investigação Detalhada é essencial para orientar o planejamento e a implementação eficaz das medidas corretivas, pois contribui para o desenvolvimento de estratégias precisas e fornecem informações críticas para o cumprimento de requisitos regulatórios. Isso promove a sustentabilidade a longo prazo, assegurando que as ações empreendidas sejam apropriadas e eficientes para mitigar os impactos negativos.  

Dessa forma, ao final da Investigação Detalhada os resultados serão interpretados e apresentados na forma de um relatório técnico, como na etapa anterior, contendo todos os dados obtidos e resultados das análises laboratoriais, e os produtos deles obtidos, como gráficos e mapas. Isso corrobora na atualização do Modelo Conceitual da área para um modelo mais compatível com a realidade. 

A Avaliação de Risco à Saúde Humana (ARSH) representa uma etapa significativa para a compreensão e correção dos possíveis impactos decorrentes da exposição dos receptores aos contaminantes. A determinação de limites de ação ou critérios de aceitabilidade é uma consequência crucial dessa avaliação, orientando as decisões acerca das medidas corretivas. A ARSH também direciona a elaboração das estratégias de remediação, com o objetivo de reduzir os níveis de exposição e minimizar os riscos à saúde humana. 

Durante a avaliação, é imperativo examinar a literatura científica e os dados toxicológicos para entender os efeitos potenciais de cada contaminante presente no solo, água ou ar. Diversas vias de exposição são consideradas, como ingestão, inalação e contato dérmico, assim como a duração dos riscos, abrangendo tanto exposições agudas (de curto prazo) quanto crônicas (de longo prazo). A proteção de grupos sensíveis, como crianças, idosos ou pessoas com condições de saúde preexistentes, é um aspecto crucial a ser abordado. 

Essa avaliação garante a conformidade com padrões e regulamentações ambientais relacionados à proteção da saúde humana, mitigando o risco de penalidades e litígios, além de facilitar a comunicação transparente com comunidades locais e autoridades governamentais, compartilhando informações sobre os riscos identificados e as medidas tomadas para atenuá-los. Ademais, contribui para o desenvolvimento de planos de monitoramento contínuo que avaliam a eficácia de medidas corretivas implementadas. 

No contexto do Gerenciamento de Áreas Contaminadas, a Avaliação de Risco toxicológico e tecnológico à saúde humana desempenha um papel vital, assegurando uma abordagem fundamentada em evidências científicas para preservar os receptores impactados e promover a segurança à longo prazo. 

A determinação de medidas de intervenção e a elaboração de um plano de ação representam passos fundamentais no enfrentamento da contaminação ambiental existente. Estas ações têm como objetivo mitigar impactos adversos, proteger a saúde pública, preservar o meio ambiente e garantir a conformidade com regulamentações ambientais. Assegurar a conformidade de todas as medidas com requisitos regulatórios locais, nacionais e internacionais é crucial para evitar penalidades e litígios, bem como é essencial a geração de relatórios técnicos transparentes. 

Na escolha das ações a serem tomadas considera-se a extensão da contaminação, seu potencial de risco e o uso futuro da área, e podem abranger métodos físicos, químicos ou biológicos, como extração de vapores, bombeamento e tratamento de água, bioestimulação, entre outros. Dessa forma, o Plano de Intervenção conta com a aplicação de medidas de engenharia, de controle institucional e/ou de remediação. 

O estabelecimento um sistema de monitoramento contínuo das medidas tomadas é essencial para avaliar a eficácia das mesmas ao longo do tempo, envolvendo a análise regular de amostras de solo, água subterrânea e vapores. Da mesma forma, a realização de Avaliações de Riscos contínuas é essencial para avaliar possíveis mudanças nos cenários ambientais, regulamentações e no uso da área em estudo. O engajamento ativo das partes interessadas, como comunidades locais, autoridades regulatórias e os proprietários das áreas é crucial para garantir transparência, comunicação aberta e a aplicação das medidas necessárias.  

Como parte do Plano de Intervenção, também poderão ser elaborados Planos de Contingência para lidar com situações imprevistas que possam comprometer a eficácia das intervenções aplicadas. A condução dessas atividades é fundamental no planejamento da reabilitação da área contaminada para um uso futuro específico. 

O monitoramento ambiental de áreas contaminadas é uma prática fundamental no gerenciamento contínuo desses locais. Consiste na coleta regular e análise sistemática de dados ambientais para avaliar a eficácia das medidas de remediação implementadas e para garantir que não haja riscos significativos para a saúde humana e o meio ambiente. Inclui a análise de parâmetros como a concentração de substâncias químicas contaminantes no solo, na água subterrânea e em outros compartimentos ambientais relevantes, permitindo identificar qualquer variação nos níveis de contaminação, fornecendo informações essenciais para ajustar estratégias de remediação, se necessário. 

Além disso, o monitoramento ambiental contribui para a prevenção de danos futuros, assegurando que a área permaneça segura para uso pretendido, como habitação, agricultura ou recreação. A transparência na divulgação desses dados também é crucial para manter a confiança da comunidade local e demais partes interessadas no processo de gerenciamento de áreas contaminadas. 

O monitoramento ambiental também pode ser utilizado para constatar se é possível encerrar a área contaminada em questão visando se as medidas de remediação foram eficazes e se a área atende aos critérios preestabelecidos para encerramento, garantindo que os níveis de contaminação estejam abaixo dos limites aceitáveis e que não representem riscos significativos para a saúde humana e o meio ambiente. Essa etapa é crucial para assegurar que o local possa ser devolvido ao uso pretendido, seja para atividades residenciais, comerciais ou recreativas. A transparência na comunicação dos resultados do monitoramento é essencial para obter a aprovação das autoridades reguladoras e garantir a confiança da comunidade local. 

A modelagem numérica de fluxo e transporte de contaminantes é fundamental para a gestão eficaz das áreas contaminadas. Essa abordagem envolve a utilização de modelos matemáticos para simular o movimento da água subterrânea (fluxo) e a disseminação de contaminantes nesse meio (transporte). Diversas razões destacam a importância dessa prática: em primeiro lugar, proporciona uma compreensão aprofundada do comportamento da água subterrânea, incluindo padrões de fluxo, recarga e descarga, identificando rotas de migração de contaminantes e áreas críticas onde a concentração de poluentes é mais significativa, orientando a priorização de ações de remediação. 

A capacidade de avaliar cenários futuros, considerando diferentes condições climáticas e mudanças no uso da terra, é outra vantagem da modelagem. Isso permite antecipar a propagação de substâncias nos compartimentos ambientais, otimizando as estratégias de remediação por determinar os tipos mais eficazes de medidas corretivas. A modelagem também possibilita estimar o tempo necessário para a ocorrência da atenuação natural dos contaminantes, indicando quando as condições podem retornar aos níveis aceitáveis, e contribui para o cumprimento de padrões ambientais, fornecendo informações sobre a eficácia das ações de remediação em conformidade com normativas regulatórias. A influência da modelagem se estende até o planejamento do uso futuro da área, garantindo que as atividades sejam exercidas de forma segura e sustentável.  

Por fim, a modelagem é uma ferramenta valiosa para apoiar decisões baseadas em evidências, proporcionando uma base sólida para estratégias de gestão de áreas contaminadas pois facilita a compreensão dos desafios e dá maior assertividade às soluções propostas. Em síntese, a modelagem numérica de fluxo e transporte de contaminantes desempenha um papel central No Gerenciamento de Áreas Contaminadas, fornecendo insights essenciais para a tomada de decisões, otimização de recursos e proteção dos receptores. 

A caracterização geofísica e morfoestrutural é fundamental em estudos de Gerenciamento de Áreas Contaminadas que envolvem aquíferos fraturados. Essa abordagem incorpora métodos geofísicos e análises estruturais para compreender a natureza e o comportamento desses meios, sendo crucial para avaliar a contaminação e formular estratégias de gestão eficazes. 

Pela utilização de métodos geofísicos, é possível identificar estruturas geológicas que exercem influência na movimentação da água subterrânea, especialmente em aquíferos fraturados, onde a presença e orientação das fraturas desempenham papel essencial na disseminação de contaminantes. Os métodos proporcionam o mapeamento da heterogeneidade do subsolo, indicando variações na permeabilidade e porosidade, sendo informações cruciais para compreender a dinâmica do fluxo de água subterrânea na zona saturada e a propagação de contaminantes. Na zona não saturada, a aplicação de métodos geofísicos fornece insights sobre a distribuição de água e contaminantes acima do lençol freático, sendo especialmente relevante para compreender processos de transporte vertical. 

A implementação das técnicas geofísicas ao longo do tempo possibilita o monitoramento das variações temporais nas propriedades do subsolo, essencial para avaliar alterações na distribuição de contaminantes e a eficácia das medidas de remediação ao longo do tempo. A caracterização do meio também orienta o planejamento de perfurações de poços, direcionando essas ações para locais estratégicos onde as fraturas são mais proeminentes, otimizando a coleta de dados hidrogeológicos. 

Uma análise morfoestrutural robusta, por sua vez, contribui para a avaliação da conectividade hidráulica entre as fraturas no aquífero, elucidando como tais fraturas podem interagir entre si e qual a sua influência no movimento da água e dos contaminantes. 

Os dados obtidos por métodos geofísicos e morfoestruturais são fundamentais para validar modelos hidrogeológicos, aprimorando a precisão das simulações e previsões relacionadas à propagação de contaminantes. A combinação dessas técnicas contribui para a redução de incertezas na interpretação das condições do subsolo, desempenhando um papel crucial no Gerenciamento de Áreas Contaminadas em aquíferos fraturados, fornecendo informações indispensáveis para compreender a hidrogeologia e desenvolver estratégias eficazes de gestão e remediação. 

A due diligence, no contexto do Gerenciamento de Áreas Contaminadas, é um processo sistemático e abrangente de investigação do histórico ambiental e avaliação de riscos ambientais associados a uma determinada área, propriedade ou instalação. Essa prática é realizada antes de transações comerciais, desenvolvimentos imobiliários, fusões, aquisições ou outras atividades que possam envolver responsabilidades ambientais. Entre os aspectos fundamentais desse processo, encontram-se: 

  • Levantamento de Informações Históricas 
  • Coleta de dados sobre o uso passado e atual da terra, histórico operacional e quaisquer incidentes conhecidos de contaminação; 
  • Análise Documental 
  • Revisão de documentos como relatórios ambientais anteriores, registros regulatórios, licenças ambientais e outros registros relevantes; 
  • Inspeção de Campo 
  • Realização de visitas ao local para identificar sinais visíveis de contaminação, avaliar a condição das instalações e, se necessário, coletar amostras ambientais para análise; 
  • Identificação de Riscos e Responsabilidades Legais 
  • Avaliação dos riscos associados à presença de contaminantes, determinação da extensão da contaminação e identificação das responsabilidades legais e regulatórias; 
  • Avaliação de Conformidade 
  • Verificação do cumprimento das regulamentações ambientais aplicáveis e identificação de quaisquer obrigações ou pendências regulatórias; 
  • Estimativa de Custos 
  • Avaliação preliminar dos custos associados à remediação e mitigação dos impactos ambientais, proporcionando uma estimativa do passivo ambiental; 
  • Relatório de Due Diligence Ambiental 
  • Documentação dos resultados da investigação, destacando os achados, conclusões, recomendações e medidas sugeridas para mitigar riscos. 

Esse tipo de avaliação permite a identificação antecipada de possíveis riscos ambientais, prevenindo surpresas e possibilitando a gestão proativa de desafios potenciais no futuro e ainda fornece informações essenciais para decisões fundamentadas em relação a investimentos, transações imobiliárias ou outras atividades que possam envolver áreas com potencial contaminação. No âmbito legal e financeiro, essa avaliação facilita a compreensão das responsabilidades associadas à contaminação, viabilizando a negociação de acordos apropriados e a implementação de medidas corretivas. Assegura também a conformidade com regulamentações ambientais, evitando penalidades e possíveis litígios futuros. 

Ao identificar e resolver proativamente questões ambientais, essa prática contribui para a manutenção da reputação das partes envolvidas. Em resumo, a due diligence no Gerenciamento de Áreas Contaminadas é essencial para salvaguardar interesses legais, financeiros e de reputação, garantindo uma abordagem responsável e sustentável em transações comerciais ou empreendimentos que possam envolver locais potencialmente contaminados.